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As curiosas passagens e as amizades do ex-presidente JK em Anápolis

 

 

CLAUDIUS BRITO - Jornalista-  Personalidade marcante da história do Brasil, o ex-presidente Juscelino Kubistcheck teve outras passagens interessantes por Anápolis, além daquela em que ele desceu no aeroporto da cidade, num dia de tempestade, em 18 de abril de 1956, e assinou uma mensagem para o Congresso nacional, visando criar a Novacap, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, que na prática, autorizava a construção de Brasília.

O livro Menesgueio- A Saga da Família Steckelberg no Brasil- de autoria de José Henrique Steckelberg Filho, remonta algumas passagens de JK por Anápolis e a amizade que se estabeleceu entre ele e o patriarca da família, Arnaldo Steckelberg, inclusive, selada através de uma carta de próprio punho que Juscelino escreveu ao amigo, pouco antes de deixar o governo.

Consta, no livro, que durante o final da década de 1950 e início da década de 1960, deu-se auge da oficina dos Steckelberg, em razão, sobretudo, da movimentação que havia naquela época em torno da implantação da nova capital da República.

Era grande, conforme o relato, a demanda de serviços em veículos pesados e máquinas. Em Anápolis, houve uma participação pontual da oficina dos “alemães”, com o serviço de operação das comportas de captação de água das turbinas da usina hidrelétrica do Lago Paranoá, importante para garantir o abastecimento de Brasília.

O então presidente Juscelino Kubistchek tinha o hábito de fazer visita a eventuais fornecedores e empresas que prestavam serviço nas obras de construção da capital. Numa dessas visitas, ele foi conhecer a oficina Steckelberg & Irmãos. O presidente ficou impressionado com o maquinário que tinha no local, algo diferenciado para a época.

Num determinado momento da visita, JK pediu para usar o banheiro. Nesse momento, ele foi orientado a ir até a casa da Dona Olga, que morava no fundo da oficina, pois o banheiro ali era mais adequado.

Uma vez na casa, o presidente foi até à cozinha e ali, sentindo o aroma que saía das panelas no fogo, experimentou um pouco da comida. E disse que, se não tivesse um almoço já agendado, almoçaria ali mesmo.

Dona Olga, então, disse que faria o almoço em qualquer outra ocasião. E JK não recusou o convite. “Veja aí na minha agenda quando que poderei marcar para vir aqui para almoçar”, disse ele ao motorista que o acompanhava. E a promessa foi cumprida. Assim, nasceu a amizade ele JK e Arnaldo.

 

A carta

No ano de 1961, já quase para deixar o cargo, Juscelino Kubistchek escreveu uma carta ao amigo Arnaldo, de próprio punho. Nela, estão registros importantes de como o presidente sentia-se no cumprimento de seu mandato.

 

Veja, na íntegra, o texto da carta, que é destacada no livro:

“Ao aproximar-se o término de meu mandato, venho manifestar-lhe, de modo especial, o meu reconhecimento pelo seu patriótico apoio à luta que travei para conduzir a pleno êxito a causa do desenvolvimento nacional.

Sinto-me satisfeito em poder proclamar que, na Presidência da República, não faltei com um só dos compromissos que assumi como candidato. Mercê de Deus, em muitos setores realizei além do que prometi, fazendo o Brasil avançar, pelo menos, cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo. Pude ainda, através da operação Pan-Americana, despertar as esperanças e energias dois povos americanos para o objetivo comum de combate ao subdesenvolvimento e todo esse êxito culminou no cumprimento da meta democrática, quando o Brasil apresentou ao mundo um admirável espetáculo de educação política, que me permite encerrar o mandato num clima de paz, de ordem, de prosperidade e respeito a todas as prerrogativas constitucionais.

Sejam quais forem os rumos da minha vida pública, levarei comigo, ao deixar o honroso posto que me confiou a vontade popular, o firme propósito de continuar servindo o Brasil com a mesma fé, o mesmo entusiasmo e a mesma confiança nos seus altos destinos”.


 


 

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