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A praça era do povo I




Praça das Mães, número 163. Este foi, por algumas décadas, o nosso endereço. Meus pais - Edésio e Consuelo - eu, que lá cheguei ainda bebê, e os irmãos: Rosa, Márcio, Conceição, Alberto, Ailton e José (e, também, o Ismael), dividíamos os cômodos da casa, além da parentada que vinha de longe se hospedar, sobretudo, quando faziam algum tipo de tratamento nos hospitais da cidade.
A nossa movimentada casa ficava na esquina de um logradouros que, à época, era considerado um dos principais cartões postais de Anápolis: a Praça das Mães. Um ponto de encontro da garotada, dos casais de namorados, das famílias. Ali, sempre havia alguém de manhã, à tarde ou à noite. Não havia medo. De fato, a praça era do povo!
Havia muito espaço na Praça, calçadas de pedras, muita grama, coqueiros e pequenos jardins com muitas margaridas brancas. O gramado era cuidado com esmero por um “vigia” conhecido pelo apelido de “Pára-raio”. Justificava-se este apelido, pela velocidade que ele empreendia quando ia nos tirar de uma parte grama que ficava próximo ao palanque.  Era lá que a gente insistia, todos os dias, em jogar bola. Um no gol e o resto na linha, cada um por si. A brincadeira tinha o nome estranho. Com o perdão da palavra: “cú de boi”. Mas, era a nossa diversão.
Contudo, Pára-raio ficava enfurecido quando usávamos o gramado e, não raro, ele furava a bola “dente de leite”, para o nosso desgosto e para demonstrar a sua autoridade no local. Mas, logo estávamos ali de novo, desafiando aquele homem baixo, meio rude, mas que só fazia o seu trabalho. Com o tempo, correr do Pára-raio era tão divertido quanto jogar bola. Era um desafio.
À noite, o passatempo era brincar de bandeira. Colocávamos duas camisas, uma em cada extremidade da praça e formávamos dois grupos, sendo que o desafio do grupo era pegar a bandeira do campo adversário. Também tinha queimada, golzinho e uma série de outras brincadeiras, hoje relegadas ao esquecimento e trocadas pelos jogos de vídeogame e pelos atrativos dos aparelhos de celular. Era muito divertido. Havia sempre novidades e espaço para novas amizades.
Na praça, o espaço era aproveitado também para andar de bicicleta. Na minha Monark, de pneu branco e dobrável, o máximo era descer embalado em uma pequena rampa, ficar em pé na garupa e soltar as mãos. Havia um rapaz, chamado Ernesto, que era um verdadeiro gênio na “magrela”. Fazia coisas incríveis.
Tudo ali era paz e diversão. De vez em quando, apenas, a paz era quebrada com a chegada dos chamados “coreanos” (moradores de uma parte da cidade que era chamada de Coreia, nas proximidades do Bairro Maracananzinho), que botavam banca e, algumas vezes, acaba em briga. Numa dessas, até perdi os meus óculos de grau que depois abandonei, mas não foi pelo trauma.
O mais interessante de tudo é que nós, não só as crianças, mas também as famílias, tínhamos uma sintonia tão grande com aquele espaço que, posso dizer sem dúvida, era amor. Isso faz entender um outro sentimento pela cidade: o bairrismo.

Comentários

  1. Ótimas lembranças, belo texto. Abraços, amigo.

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  2. Muito bom , Parabéns , lendo esse texto me passou um filme da época da praça , como éramos felizes

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