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Primavera e mais sobre o tempo (passado) e o clima


  

Quando era criança ouvia no rádio notícias dando conta de pessoas que haviam morrido em Anápolis por causa do frio, durante o inverno. Quase sempre - ou o que a memória permite recordar - boa parte dessas mortes acontecia na antiga Rodoviária, que ficava na Avenida Brasil Sul, onde depois funcionou durante muitos anos a Nasa Veículos e, agora, é um grande terreno.
Naquela época, em algumas ocasiões, o frio era tanto que dava geada. Numa delas, em nossa chácara, o capim, alguns poucos pés de café e outros de frutos ficaram esturricados. Nunca tinha visto nada igual. O frio era, de fato, temível na época do inverno anapolino.
  Na época da chuva, eram vários meses de água caindo. Se brincar, a gente até mofava dentro de casa, porque não tinha como sair. Para nós, crianças, aquilo acabava virando diversão e motivo para faltar à escola. Mas, para os adultos, era um transtorno.
  O tempo passou e, literalmente, mudou. Não temos mais no nosso inverno, aquele frio que havia no passado, que levava pessoas à morte. Claro, infelizmente, isso ainda acontece nos dias de hoje. Mas, não, na intensidade de antigamente. Também o período chuvoso não é mais tão longo quanto já foi tempos atrás. A diferença é que, agora, os transtornos são ainda maiores, devido à impermeabilidade do solo. Aliás, isso remete a um passado não tão distante.
  No começo da década de 1990, o então Prefeito Anapolino de Faria lançava o Plano Diretor de Anápolis, a partir de audiências públicas para colher sugestões ao projeto que seria encaminhado à Câmara de Vereadores. Numa dessas reuniões, o arquiteto e urbanista que era um dos idealizadores da proposta, contratado para tal finalidade, levantou a ideia de colocar no referido projeto a exigência de que cada residência tivesse alguns metros quadrados (não me lembro, exatamente a medição, mas não era muita coisa) para a permeabilização do solo. A proposta e o autor receberam uma verdadeira enxurrada de críticas e, assim, a proposta não vingou. Era algo barato, que não custaria praticamente nada para ninguém e daria um ganho de qualidade para a cidade.
  Hoje, o fantasma que nos ronda são as queimadas, que se intensificam nessa época sem chuva, com ventos e baixa umidade. Soma-se a essas condições, a ação - às vezes, até, criminosa - de pessoas que colocam fogo nos lotes baldios ou nas propriedades rurais. E aí, sofremos todos nós com a baixa qualidade do ar e o meio ambiente com a sua degradação.
  Quem dera, então, pudéssemos voltar ao passado, não para ouvir relatos de pessoas mortas de frio; nem de geadas destruindo plantações. Mas, para podermos fazer coisas positivas ao nosso meio ambiente. Coisas que, talvez, não damos muita atenção porque ainda não somos afetados de forma mais intensa pelas intempéries ou, mesmo, porque já nos acostumamos a lidar com as tragédias climáticas.
  Felizmente, nunca é tarde para ser consciente. E, quem sabe, com tudo que vimos e ouvimos a gente possa aprender e, com isso, quem sabe, possamos fazer um mundo melhor para nós mesmos e para as próximas gerações, como pregava, anos atrás, o ecologista Amador Abdalla, numa época que a ecologia não era uma palavra da moda. Aliás, longe disso. Na sua inteligência humilde, Amador Abdalla pedia para as crianças descerem das árvores, nos desfiles de 7 de setembro, porque aquelas árvores, um dia, iriam dar sombra aos filhos e aos netos daqueles que lá estavam disputando os galhos para ter uma visão melhor do acontecimento.
  Ia esquecendo que este artigo seria para falar sobre a chegada da primavera, a estação das flores, que dão beleza às nossas vidas. São obras de arte da natureza que devem ser bem cuidadas e valorizadas. Mas, se não cuidarmos bem dos nossos tesouros naturais, teremos cada vez menos belezas para contemplarmos e cada vez mais desconfortos com o desequilíbrio do clima.

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