A Praça das Mães, durante muitos
domingos, era frequentada por jovens e adultos que faziam uma feira espontânea
de troca de gibis, uma leitura que era compartilhada por quase todos já que, na
época, ainda não havia computador, internet, celular. Dá um Tio Patinhas, pega
um Tex (quadrinho de cowboys muito famoso na época). Dá um Turma da Mônica,
pega um Recruta Zero... era assim, mais ou menos, e a leitura da semana ficava
garantida. Uma coisa simples, mas muito gostosa e saudável.
Havia também, em algumas ocasiões, os
concorridos concursos de pipa - ou papagaios e raias - como alguns chamavam- e,
nesses dias, o céu da Praça das Mães se coloria com as obras de arte em papel,
linhas e colagens que deslizavam de um lado por outro, ao sabor do vento.
Infelizmente, já tinha na época a turma que gostava do mal feito e passava
cerol para fazer guerra e derrubar a pipa de outro menino. Quando não havia
dinheiro para montar uma pipa bem legal, a gente fazia com papel de jornal
mesmo e grude, uma cola caseira feita à base de povilho e água e esquentada no
fogão. Só uma coisa não era permitida: ficar sem brincar.
Não há lugar nenhum que seja mais
democrático que uma praça. E a Praça das Mães era exatamente assim. Foi, ainda,
palco de dezenas de comícios, sobretudo, na década de 70, quando o Brasil ainda
tinha o sistema do bi-partidarismo, ou seja, tínhamos, apenas, a Arena - que
era a representação da direita e dos militares - e o MDB - que agrupava
liberais e esquerdistas. Para alguns, como meu pai, os “modebras” eram meio
comunistas e ele não gostava muito quando o palco da praça era do MDB. Mas, sem
nenhum radicalismo. Talvez, mais por preocupação de como o esquerdismo era
repreendido. Em casa, tínhamos um compacto duplo em vinil do Geraldo Vandré com
a música “Caminhando” e seu famoso refrão: “Vem vamos embora que esperar não é
saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”. Aquilo era incendiário
para época. Para nós, crianças e adolescentes era, na verdade, algo que
achávamos bonito, mais sem um entendimento mais profundo do significado daquela
época.
A música também estava presente na
Praça das Mães. Lá, uma multidão viu o show dos Demônios da Garoa e dos
Incríveis. Neste último, havia uma histeria por parte do público feminino, com
os rapazes do conjunto. E, como na época a coisa era meio improvisada, um deles
ficou com sede e saiu para uma pedir água e acabou batendo na porta de nossa
casa que ficava na esquina. Logo, virou uma algazarra, com as moças berrando e
querendo entrar. Foi, literalmente, incrível!
A Praça das Mães viu muitos de nós
crescer e virar médicos, políticos, jornalistas, comerciantes, enfim, gente
trabalhadora que ali alimentava não apenas a sede de diversão, mas também os
seus sonhos.
A Praça continua lá. Não deixou de
ter o seu encantamento. Mas, já não tem aquela grande quantidade de crianças
brincando, nem os casais namorando nos bancos, nem os shows e comícios
memoráveis.
Mas, na Praça das Mães ainda tem flores. E, dentro de nossos corações,
há esperança de que possamos vê-la de novo como era antes, num passado não
muito distante. Se isso não for possível, vamos continuar contemplando-a,
respeitando-a e amando-a da mesma forma, por tudo que ela representou e representa
para nós e para a cidade de Anápolis.
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