Animais foram
presenças marcantes em nossa família. Lord era um cão - como o seu próprio nome
- meio aristocrático. Pequeno, com pelos brancos e encaracolados, não fazia
medo a ninguém por seu porte e, nem ele fazia questão de amedrontar quem quer
que seja. Era “boa pessoa”. Comia de tudo, era de bem com todos na família. Eis
que, um dia, Lord foi atropelado por um caminhão. Ficou dias e dias deitado,
ruim, agonizando. Lutou muito pela vida, mas se foi lá pelos seus 13 a 14 anos
de idade. Para um cachorro é a terceira idade. Foi triste.
Na infância,
tivemos ainda a gata Vanusa, de pelos bonitos, graciosa e carinhosa. Vanusa deu
uma cria e isso incomodou uma vizinha. Nunca tivemos prova, mas, Vanusa e suas
crias partiram desta para melhor envenenadas. Uma grande tristeza,
principalmente para nós, os caçulas da casa. Pior era que, embora soubéssemos
que houve um “gaticídio”, nada pudemos fazer a não ser amargar a perda de
Vanusa e a prole.
Pior, ainda,
foi o periquito que chamávamos de “Quito” (bem óbvio o nome), que era uma
espécie de sombra de minha irmã. Onde ela ia na casa, o quito lá estava atrás
da amiga e protetora. Quito era querido de todos, muito alegre e gritante.
Circulava livremente com suas penas verdes reluzentes. Quando incomodado, dava
algumas bicadas. Mas, entendíamos o seu instinto defensor.
Certo dia, minha
já se encaminhava para dormir, acreditando que o amiguinho estava no seu devido
lugar no quintal. Porém, sorrateiramente, o bichinho estava andando atrás da
dona que nem sombra, quando ela foi para a sua cama. Ao deitar, algo a
incomodou e, ao virar de posição, veio o choque: o incômodo era o Quito, que
ali não deveria estar e foi sufocado. Uma dó!
A choradeira e
os lamentos foram intensos. “Por que foi o meu Quito e não foi a Zana?”,
berrava a irmã, com muito desespero. A Zana, detalhe: era o apelido da melhor
amiga de minha irmã.
Numa viagem a
Lizarda (TO), meu pai trouxe um, então, filhote de papagaio. Na época, cercado
de todos os cuidados, porque a viagem era longa. Mas, o Loreco - como foi
batizado - chegou bem e, como todos de sua raça, aprendeu a assoviar, e a
“falar” algumas coisas. Até, cantar um “atirei o pau no gato...”. Naquele
tempo, não havia proibição como havia hoje para se criar um animal silvestre.
Mas, ainda assim, meu pai deve ter feito a maior proeza dele, porque não
gostava e não fazia nada que não fosse rigorosamente legal. Loreco ficou
conosco muitos e muitos anos. Mais de 25 anos, certamente. E era meio valentão.
Poucos eram os privilegiados dele dar as patas. Quem ele estranhava, podia
esperar a bicada. Nem os gatos que rondavam a casa iam com ele.
Outro adotado
foi o Toty. E, se tem um cão que merece ser chamado de amigo é este. Nunca
mordeu e nem ameçou morder ninguém. Quando chegou em casa, o caozinho tinha uns
dois meses. Estava assustado, quieto. Mas, com o passar dos dias, o Toty deu as
caras. Fazia bagunça, comia o “pé do sofá” e mordia qualquer pisante que
deixassem dando sopa. Inclusive, abocanhou um tênis novinho que meu irmão
acabara de comprar e estava exibindo. Mas, foi só uns arranhões.
Era véspera de
Natal e estava chegando em casa outro irmão vindo de São Paulo. Na confusão do
entra e sai de gente da casa, Toty saiu correndo, louco (como sempre quando
saía à rua) e um carro o atropelou, arrastando-o por alguns metros. Meus filhos
ficaram chocados. O mais novo, viu tudo na hora. Colocamos o Toty no carro,
seguindo para uma clínica veterinária próxima.
Foi quase um
milagre, mas o Toty conseguiu escapar. Neste ano, todos na casa viajaram e eu
fiquei cuidando do bicho enfermo, que tinha dificuldade para comer e tomar a
medicação. Mas, venci a resistência comprando uns bolinhos de carne, que dava
aos pedaços com o comprimido junto. E, assim, logo, Toty ficou bem. Curioso que
ele levou um tempo considerável para voltar a latir. Mas, depois que latiu, não
parou mais. Também não parou mais de comer. Um apetite insasciável. Todos os
dias, pedia com latidos bem sonoros, que eu lhe desse um pedaço de pão. E,
sempre, ele comia no mesmo lugar, num tapete do lado de fora da casa. Era um
cão metódico e educado.
Aos domingos,
Toty amanhecia na porta do meu quarto, esperando que o levasse para o passeio no
parque. Latia desvairadamente e ficava
correndo para onde ficava a sua coleira, mostrando que era a hora do passeio de
domingo, não podia esperar. Mal me deixava tomar o café da manhã.
E lá íamos nós –
eu e Toty. Ele louco, me puxando. Certo dia, comentaram com a minha esposa: “Vi
o seu marido, tinha um cachorro passeando com ele”. Uma vez, num dos passeios
dominicais, contei: ele fez 31 xixis. De vez em quando, gostava de entrar na
água para refrescar e depois se balançava para tirar o excesso de água dos
pelos e, aí, eu é que ficava molhado.
Toty ficou
doente e partiu. Uma perda sentida por todos na família, porque ele era, de
fato, um cão especial. No nosso baú de recordações, só temos boas lembrançass
dele.
Cachorro, gato,
papagaio, perequito, seja qual for o animal de estimação, eles são bons amigos
e, como tal, devem ser bens tratados. Todo mundo, certamente, tem uma história
com algum deles e isso, a gente sempre carrega no nosso diário de vida.
Quem nunca teve ou não
gosta de animal, não há problema. Não fique mordido de raiva.
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