Na verdade, o nome que está no
título é só uma sugestão porque, na verdade, nunca descobrimos a identidade
dele: o homem que, todos os dias, fazia a limpeza dos capins que brotavam por
entre os paralelepípedos das ruas que ladeavam a Praça das Mães. Na época, o
asfalto ainda não tinha chegado e as ruas tinham estes blocos de pedra, cheios
de ondulações, onde os matinhos e pragas, teimosamente, cresciam.
Com chuva ou sol, lá estava ele,
todos os dias, de cabeça baixa e um chapéu de palha do tipo mexicano, com abas
generosas que escondiam o seu rosto suado e cheio de marcas do tempo. Se já não
sabíamos o nome, imaginem, a idade. Era uma incógnita!
Durante anos e anos, Romualdo foi
companhia certa nas manhãs da Praça das Mães, fazendo solene e silenciosamente
o seu trabalho de limpeza que, certamente, não era remunerado, já que ele nunca
se apresentou com um uniforme da Prefeitura. Muito pelo contrário, trajava
vestes bem humildes, para não dizer, quase, uns trapos. Mas limpo, exceto as
marcas do seu trabalho diário.
Tão impressionante quanto a sua
presença era o seu silêncio. Jamais, no que permite a recordação, ouvimos a voz
de Romualdo, a gente o chamava no nosso universo real\imaginário. Éramos
crianças e aquela presença para nós era de um senhor que se dedicava a uma
atividade laboral que não dávamos tanto relevo. Mas ele a fazia da melhor forma
possível, com uma dignidade de impressionar.
Romualdo, certame, nunca recebeu
qualquer tipo de reconhecimento pelo trabalho voluntário que desenvolvia em
prol da cidade. No entanto, com certeza, foi um desses heróis anônimos que toda
cidade tem. Nós, que o víamos todos os dias, não tínhamos coragem de chegar até
ele e quebrar aquela barreira de segredo e, assim, foram-se os dias e os anos,
até que Romualdo sumiu. A rua de paralelepípedo deu lugar ao asfalto, frio, sem
brechas para que alguém pudesse limpá-la daquela forma. E o homem do chapéu de
palha de abas longas foi-se, misteriosamente, como ele próprio sempre
foi.
Romualdo recolheu-se com o seu
silêncio e, com certeza, é um jardineiro em algum lugar do universo que
desconhecemos. Talvez, ele ria de nós, porque seu nome, até, não seja este.
Autor: Claudius Brito
Recordação linda.
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